Só que, pra quem acompanhou a série desde o começo - todas as chamadas na Sony, todos os sites americanos, enfim, tudo o que a internet conseguia proporcionar em 1997 - Dawson's Creek tinha uma aura de realismo que encantava. E o que me fisgou foi que tudo na vida do Dawson, de certa forma, girava em torno do cinema.
Admito, eu sou assim. Eu sou um Dawson, que compara momentos da vida com cenas de filme, que constrói tramas complexas a partir de um simples comentário de pai ou mãe, que inventa uma trilha sonora pra cada dia. Cinema faz parte de mim, de uma forma que eu não sei explicar.
Mas às vezes até eu canso de mim. Não consigo mais dar atenção a essa parte do meu eu, que vai ficando de lado, por falta de tempo ou de ânimo. E eu fico com medo de perder isso, de perder esse amor que eu sinto pelo cinema, provavelmente o primeiro amor que eu tive. O desespero que eu sinto quando não consigo ver um filme pode não ser perceptível, mas é cortante, é desgastante. Eu me odeio por alguns minutos. Então respiro fundo e penso que é só uma fase, isso logo passa, e eu voltarei a sentar na última fileira da sala, ouvindo o barulho do projetor.
Aí, quando isso acontece, é como mágica: eu me sinto completa de novo. Como se aquele lugar fosse a fonte das minhas energias, me renovasse a cada visita. E, quando na tela o que eu vejo é um filme daqueles impossíveis de não gostar, eu sei que as lágrimas que eu não consigo conter são a maneira que a minha alma encontrou de dizer que eu ainda estou viva.