Nos relacionamos com muitas pessoas ao longo de nossas vidas. Mesmo no curso de um dia, uma infinidade de relacionamentos se desfia, um atrás do outro, nos guiando. Como dar bom dia ao porteiro do prédio. Um mesmo gesto, ou cumprimento, repetido à exaustão, no mesmo horário, dia após dia. Aos poucos, a rotina cria entre duas pessoas uma relação de confiança. Aí não é mais só o "bom dia", a isso se acrescenta um "e esse tempo, hein?". Em dois meses, discutir futebol é pouco, e já é possível perguntar pela saúde dos filhos do porteiro, referindo-se a eles pelo nome.
Isso é um relacionamento. Por mais que não demos a isso o mesmo nome que damos a um laço familiar, a uma amizade, a um namoro. Mas não deixa de ser um relacionamento. E não deixa de ser doloroso quando esse laço se quebra. É como se a Força sofresse um abalo o equilíbrio. Como se uma parte do nosso dia deixasse de existir. É um vazio - que vai ser preenchido em pouco, ou muito, tempo, isso não importa. Importa é que ele se cria dentro de nós, mesmo que por um instante.
Mas relacionamentos também acabam por desgaste. Por um costume que vai, aos poucos, se transformando em atrito. A confiança, antes fundamental, começa a se abalar. E eufemismos como "dar um tempo" ganham força em nossas convicções.
E podem ser realmente a solução: tirar o pé, se afastar, reavaliar o modo como as coisas são conduzidas. Todas as formas de análise são válidas para determinar se aquele é um relacionamento que vale a pena ser resgatado. Às vezes permanece no limbo do tempo, e provavelmente seja melhor assim. Outras, ressurge mais forte e vigoroso, a confiança mais intacta do que nunca.
É certo que determinados tipos de relacionamento só podem ser efetivamente julgados quando postos à prova. É uma pena que nem todos passem no teste. Pode ser apenas temporário. Mas não deixa de ser um vazio.
(E, antes que pensem bobagem, isso é um reflexão acerca de relacionamentos em geral. O Chico e eu estamos bem, obrigada.)