Quando eu fazia Jornalismo, era sempre aquele olhar irônico seguido da afirmação "mas esse curso é barbada, o que vocês aprendem? A escrever?". Pior ainda que, sendo famequiana, sempre tinha as implicações de estudar numa faculdade que era "só festa". E, no meio de tudo isso, a briga do diploma com aquela juíza lá de São Paulo.
Era realmente difícil me levar a sério como jornalista quando 99,87% da população mundial (a.k.a. os "não-jornalistas") não levam a sério o que se faz em uma redação.
E, claro, quando eu resolvi fazer uma segunda graduação, tinha que escolher Letras!
E ouvir, infindáveis vezes, "mas tu vai ser professora?? Pra quê??? Ganha mal!". Não adianta explicar a diferença entre Bacharelado e Licenciatura. Na cabeça do povo, é tudo professor, todos ganham mal.
Daí que eu faço Bacharelado. Tipo, estudar Teoria da Tradução. Os professores martelando o tempo todo no nosso ouvido que "saber a língua não faz de ninguém tradutor", que "traduzir não é só olhar no dicionário e escrever", essas coisas.
Aí tu começa a realmente levar a sério o trabalho de um tradutor, começa até a perdoar coisas que a Lia Wyler fez em Harry Potter (mas nem tudo, dona Lia!), até releva erros de legendagem... E lembra do tempo em que fazer um release com deadline pra ontem nem era tão ruim assim (embora, pros 99,87%, ainda seja "escrever um textinho qualquer, quem é que não sabe fazer isso?").
E aí tu descobre que não adianta, que as coisas que tu gosta são completamente incompreendidas pelo mundo, que só que tá no mesmo barco que tu entende o quanto a porcaria do barco balança e o quanto que aquele rombo no meio do casco quer dizer "Putz, que merda!". E nessas horas é que afloram todos os sentimentos de incompreensão e arrogância de familiares, amigos e namorados, que acham que o que tu faz é uma bobagenzinha qualquer, mas que tu ainda tem que ganhar rios de dinheiro com isso porque, afinal de contas, TU JÁ TEM VINTE E CINCO ANOS E PRECISA GANHAR A VIDA!!
E aí tu sai desesperadamente atrás de um emprego. QUALQUER emprego, porque a essa altura a tua cabeça chegou à conclusão de que tu é uma total incompetente e não sabe fazer nada, e pra quê um segundo diploma, se nem pra faxineira tu presta, e o que sobra é isso: uma massa inútil e desesperançada, que não sabe o que fazer com a própria vida.
(O mais engraçado é que a "sonoterapia" é completamente aceitável, desde que feita por uma pirralha egoísta de 20 anos que não sabe atravessar a rua sozinha e que nunca fez esforço na vida.)