Infelizmente, é assim que a sociedade age.
Generaliza. Rotula.
A nossa própria existência é uma generalização. Somos todos humanos. Teoricamente.
Teoricamente porque eu sei que não sou mais nem menos do que qualquer outra pessoa nesse mundo. Não geneticamente. Não fisiologicamente. Mas ler as notícias de bombardeio no Líbano, ver aquela birra entre o Hezbollah e Israel sacrificar gente que nada mais fez do que estar no lugar errado, na hora errado (e, infelizmente, esse lugar errado era a sua própria casa, vai entender) me leva a acreditar que eu sou mais humana que um animal que pensa que bombardear casas alheias vai fazer alguma diferença.
Assim como eu sei que todos os meus defeitos poderiam me fazer menos humana do que, sei lá, a Madre Teresa de Calcutá, que com certeza tinha bem mais qualidades redentoras e humanitárias do que a maioria, independente de crença ou fé. Muito padre por aí mal levanta o dedo pra qualquer coisa que não seja vinho de missa (quando não é coisa pior).
Qualquer classificação que me dêem é uma generalização porque não dá pra especificar, tipo que eu sou um ser humano "na média", brasileira que não gosta de Carnaval, verão e pagode, gaúcha que nunca viu os Pampas mas adora Porto Alegre... Deu pra entender, né?
Uma classificação da qual eu não escapo (e não por falta de aviso) é de ser gremista. Pra quem não gosta e não entende (e a maioria dos meus amigos realmente não entende), ser gremista não é uma escolha, não é um capricho. É uma parte de mim que eu não consigo desassociar. Por mais "não-ativa" que eu seja (faz 10 anos que eu não ponho o pé num estádio pra ver jogo - o treino da Seleção Argentina não conta), eu ainda sou acima de muitas coisas, gremista.
Posso não saber a escalação do time de cor (como se todo mundo conseguisse acompanhar). Mas vejo, ou ouço, quase todos os jogos, dentro da minha disponibilidade, e meu corpo reage às vitórias e derrotas como se fossem vitórias e derrotas pessoas.
Eu *FISICAMENTE SINTO DOR* quando o Grêmio perde.
E poucas vezes eu senti uma euforia igual à que eu senti em cada um dos títulos que eu vi meu time ganhar (incluindo aquele malfadado jogo nos Aflitos ano passado, em que eu já tinha jurado que nunca mais ia torcer praquela porcaria de time, esquecendo a promessa no segundo em que o Galatto pegou o pênalti).
Eu amo futebol e sei o quanto paixão e irracionalidade podem causar problemas, erros de juízo.
Mas também sei que por amar tanto o futebol, e o Grêmio, a vergonha que eu sinto nesse momento é acima de qualquer palavra.
E nessas horas é que minha aversão à generalizações fica mais forte, porque eu queria tanto que amanhã eu não tivesse que ouvir que "gremistas são marginais" e que "gremistas só sabem bater".
Mas parece que tem gente que acha que generalizar é uma ótima maneira de esconder a cara na hora de fazer bobagem.
O que explica o que aconteceu hoje no Beira-Rio. O que explica o que acontece nos estádios, quando as torcidas dão seus lamentáveis shows de violência. O que explica todo e qualquer conflito que pode ser resumido na frase "eu ataquei porque eu não fui com a cara dele", sem levar em conta que, como aquele, existem tantos outros com a mesma cara.
Eu não vou deixar de ser gremista, eu não vou deixar de amar o futebol.
Mas, nessas horas, mais do que nunca, eu gosto de saber que sou única.