Mas depois de ontem, e depois das manifestações diversas que eu vi e que atiçaram o meu lado superprotecionista das coisas que eu amo, tinha que ser o Tiago pra dar a melhor resposta sobre o quê o futebol representa. Faço minhas as palavras dele (espero que com a permissão do mesmo):
Eu entendo esse teu estranhamento... Mas também compreendo a identificação de massa que o futebol causa (até porque estou nesse barco). Também é assim com a religião, e já foi com a política... Identidades sociais que se diferenciam das outras porque mexem com sentimentos arraigados no estrato público.
Notadamente com a bola... Dar ao povão uma chance de vencer, de conquistar algo - um título, um campeonato, às vezes até uma partida... Uma identidade coletiva que se forma entre torcedor, jogador e clube, unidos pela paixão (e às vezes pelo ódio), representados por guerreiros dentro de campo...
Não é nada novo... Vale lembrar dos coliseus romanos... A catarse coletiva era semelhante, eu imagino.
Acho que esse tipo de coisa não acontece com outros campos - principalmente o da cultura, como tu citastes - porque não há tanta paixão envolvida. Se fãs de - por exemplo - Spielberg tivessem crescido torcendo por ele, vendo um filme a cada semana, aprendendo a lidar com a derrota e a vitória com o ídolo, usando camiseta com uma foto do barbudo uma vez por semana, aposto que muita gente ganharia o Oscar, sim :-)
Pô, aqui em POA (deve acontecer com outros clubes também) os bebês já nascem com time! Pai e mãe compram tip-top como uniforme do clube, penduram flâmula na porta do quarto, até nos anúncios de jornal comunicando o nascimento já colocam o escudo do time!
Não é exatamente uma transferência, como tu dissestes... É uma identidade. Brasileiro, tantos anos, RG n° tal, tipo de sangue, clube do coração. Neguinho na pindaíba se vangloria porque é só na identidade do futebol que ele consegue vencer. Enquanto houver o radinho de pilha, o futebol jamais vai diferenciar pobre de rico.
De qualquer modo, sim, tem muita gente que só gosta de dizer que ganhou, e esse me parece um fenômeno mais fácil de observar com a Seleção... Galera que não lê notícia, não acompanha, não assiste jogo, mas não resiste a uma comemoração, sair na rua gritando "eu sou campeão"... Tem muita gente assim. E isso é totalmente "gozar com o pau dos outros", porque a sensação que fica depois é a de vazio completo; comemorou-se algo do qual não se fez parte. Essa atitude, aliás, não fica restrita ao futebol. Tem gente que age assim com qualquer coisa, só pra ter a sensação de não estar perdendo.
E quando se cresce aprendendo a amar as cores de um time, esperando o jornal de segunda pra ler a resenha completa do jogo, juntando pila pra comprar camiseta e enfrentando segurança pra pedir pro jogador autografar, viajando quilômetros e quilômetros pra assistir jogo, tendo gravada na memória as escalações vitoriosas do clube... Aí, meu velho, se ganha junto com o time, sim senhor! :-D
(pena que não tem divisão de lucros... eheheheh)
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Como eu sempre digo pro Thomaz, eu sou uma gremista solidária.