Responsabilidade e maturidade são difíceis de alcançar, independente da idade. Então o "ser adulto" é tão relativo que até Einstein vezemquando colocava a língua pros outros.
Nessas auto-reflexões involuntárias - cortesia da Carris e do trajetório saltitante do T8 que me impede de ler - eu acabei pensando sobre os eventos de alguns anos atrás e que me marcaram mais do que profundamente. Admito que eu sempre tive queda por histórias de ritos de passagem, não só no cinema como na literatura, a ponto de finalmente definir meu objeto de pesquisa e cair, claro, no Bildungsroman. Mas a questão é que na minha vida, os ritos de passagem foram traumáticos, mas não foram naturais. Eles foram obras do acaso e da confluência de outros eventos. Acho que isso faz com que eu continuamente busque novos ritos, como se eu precisasse provar o tempo todo que eu estou crescendo, amadurecendo. E isso traz conseqüências, claro. E não acontece de graça.
O centro todo da questão é a bomba de 2000. Quando tudo aquilo aconteceu, trouxe uma série de mundanças em mim, e eu virei outra pessoa. Uma pessoa com quem eu primeiro tive que aprender a conviver, depois passei a conhecer e, por fim, cheguei à conclusão que nós não poderíamos conviver no mesmo corpo. Ou, se fôssemos obrigadas, uma série de mudanças deveriam ocorrer.
O meu grande medo sempre foi que a Ana pré-2000 desaparecesse para sempre. Voltar a ser quem eu era se tornou meu ideal. A frustração cada vez que eu percebia que eu não conseguiria atingir esse objetivo só piorava a situação. Mais do que não ser eu mesmo, eu tinha pânico da idéia de perder as coisas maravilhosas que esse período in-between me trouxe. Será que os meus amigos iriam gostar de mim, da verdadeira Ana, aquela que eles nunca conheceram?
Era mais um rito de passagem. Era mais uma prova que eu deveria superar. Dói, dói muito, conviver com essa dúvida. Cada vez que eu me retraio, que eu me isolo, é porque a dúvida está mais forte, porque eu percebo pedaços de mim, da Ana que eu conhecia, voltando, e eu não sei como os outros vão lidar com isso. Ou se eles precisam lidar com isso.
Incrível como a Literatura, que entrou meio que por acaso na minha vida 3 anos atrás é responsável por boa parte dessa revolução. Na Literatura eu encontrei um centro, um equilíbrio, e isso me deixou mais forte para mudar e lidar com as mudanças. Saber quem eu sou e saber onde eu estou e para onde eu quero ir. Isso é tudo o que eu busco desde 2000. Isso é o que eu encontrei. Mais um rito de passagem.
Já não tenho a ilusão de que eu preciso escolher um lado. Eu pertenço ao in-between.